A evolução do ser humano é pautada na evolução dos meios em que vive. Estamos conscientes de que a evolução tecnológica traz avanços significativos para a humanidade, bem como, sabemos que existem componentes aceleradores de futuro que geram mudanças mais profundas nas comunidades ao redor do mundo.
Neste ano, tivemos que conviver com a pandemia do coronavírus na qual, infelizmente, ceifou vidas e incorporou medo em grande parte da população. Este trágico evento, é um grande acelerador de futuro e maior propulsor de mudanças globais dos últimos tempos, que resultou novos hábitos dos consumidores.
Não é de hoje que possuir características de adaptabilidade no meio em que vivemos, torna-nos pessoas e indústrias resilientes à essas grandes transformações. Entender os novos hábitos de consumo e agir nesse cenário é um grande diferencial entre o crescimento e a estagnação.
Segundo o relatório de tendências da WGSN, antes de compreendermos o perfil do consumidor, é preciso que entendamos os sentimentos que remodelam o dia a dia dessas pessoas. Nesse estudo global, identificaram quatro sentimentos mais comuns aos consumidores. Compreendê-los ajudará na busca por inovação para se manter relevante, mesmo que o mercado pareça cada vez mais incerto.
Medo
De acordo com o relatório, o medo foi o sentimento comum em todas as regionais onde as pesquisas foram realizadas e esse sentimento é crescente a nível global. Por meio dele, revelaram-se questões comuns à toda faixa etária pesquisada, são elas:
Ecoansiedade: uma preocupação crônica com as consequências geradas pelo aquecimento global e que promove ações para desacelerar a crise climática.
Incerteza econômica: Mesmo com o cenário econômico volátil desde a crise de 2008, o medo relacionado às questões financeiras aumentou. Essa incerteza vem sendo abastecida pelos índices significativos de insegurança econômica e desemprego, impulsionados pela pandemia do coronavírus.
Contágio emocional – dominados pelo medo: um traço comportamental em que as pessoas tendem a adotar e a imitar as emoções umas das outras. Esse comportamento cresceu ancorado ao crescimento das redes sociais e serviços de streaming. Durante a pandemia, as ondas de medo associada às incertezas do momento, fizeram que houvessem compras por pânico, enxurradas de fake news nas mídias sociais e pessoas aproveitando para obter lucros financeiros.
Dessincronização social
Com o avanço da comodidade dos serviços de entrega e atendimentos 24h, associados ao fator produtividade com equipes em home office, cresce a disparidade das rotinas individuais e gerou a dessincronização social que ocorre quando as pessoas continuam a fazer as mesmas coisas, mas não na mesma hora em que as outras. Essa dessincronização vem afetando as comunidades e causando a falta de interação consistente entre as pessoas.
Resiliência equitativa
A resiliência é a capacidade de resistir, absorver, se recuperar e se adaptar à adversidade ou à mudança. Diversos estudos apontam que a construção da resiliência exige o enfrentamento desses desafios. Atenção especial a positividade tóxica, que faz com que as pessoas busquem, obstinadamente, por sensação de felicidade que, na verdade, geram sentimentos de infelicidade.
Para 2022, os consumidores buscarão a aceitação emocional, abrindo espaço para sentimentos autênticos. A pandemia trouxe um momento de reflexão aos consumidores, permitindo uma pausa para recalcular a rota. Mesmo tendo o medo como sentimento predominante, todos estão tentando pensar em um futuro mais positivo.
Otimismo radical
Ainda que 2020 seja um ano de incertezas e falta de esperança, o ano de 2022 será um ano de forte otimismo, trazendo uma sensação imensa de alegria e prazer. O coronavírus nos lançou em uma espiral de ansiedade, mas mesmo em meio às incertezas, devemos reconhecer que nem tudo está perdido. O que perdemos, na verdade, foi a capacidade de separar o que é real do que é falso.
Embasados nos sentimentos que permeiam a sociedade, temos como compreender melhor os perfis do consumidor do futuro próximo.
Perfil do Consumidor
1) Estabilizadores
Os estabilizadores – composto principalmente de Millennials e Geração X – priorizam a estabilidade em todos os aspectos da vida – uma reação à falta de sincronia e a um sentimento de incerteza crônica. Essas pessoas estão começando a deixar de lado o culto à produtividade e a optar pela aceitação radical.
Para engajar os estabilizadores:
O simples importa: seja simplista, foque facilitação das compras, economize o tempo dele.
Comércio calmo: a ascensão do mercado das emoções (produtos e serviços pensados para o modo de como nos sentimos). Os consumidores anseiam por locais que geram experiências calmas e tranquilas.
Comércio unificado = comunicações unificadas: reunir o sistemas de canais omnichannel em um único canal geram experiência de compra única e homogênea. Um grande desafio é a unificação da comunicação e, para este perfil o envio constante de mensagem é cansativo e gera desinteresse.
2) Comunitários
Os comunitários estão desesperados para redefinir o ciclo global de agendas cheias e compromissos profissionais frenéticos. Composto principalmente de Millennials e pessoas da Geração X, esse grupo quer fincar raízes em suas comunidades, mas não em suas carreiras, inaugurando uma nova era do localismo.
Para esse perfil de consumidor, existe um limite claro de separação entre vida pessoal e profissional. Algumas empresas já fazem desse limite indicadores de performance do negócio. Isso significa que, para os comunitários, menos horas de trabalho + mais tempo em casa = mais produtividade e mais gasto do consumidor.
Para engajar os comunitários:
Revisite seus arquivos: existe um mercado crescente de revenda e o comércio peer-to-peer também está em crescimento, tornando a relação de consumo sustentável.
Comércio social hiperlocal: ainda falando sobre a crescente do comércio peer-to-peer, as compras nesse formato tem objetivo de complementar a renda de muitas pessoas.
Cidades do interior também são importantes: a descentralização dos grandes centros lançam o desafio de melhoria da distribuição logística dos grandes varejistas para atender essa micro distribuição.
3) Novos otimistas
Os novos otimistas são o grupo mais variado de todos, formado por diversos grupos etários, da Geração Z aos Baby Boomers. Porém, apesar da ampla abrangência demográfica, eles têm diversos elementos em comum – o apetite voraz pela felicidade é o mais importante deles.
Ativistas por natureza, os novos otimistas estão reeditando o termo ativismo de forma positiva no qual não é preciso estar bravo para ser ouvido, basta ser ativo.
Como característica, eles enxergam os impactos negativos dos estereótipos estéticos e, por isso, exigem que todos se sintam representados.
Uma forma de identificá-los, é que eles são a geração ‘celebracionista’ – um sistema que reforça a necessidade de comemorar acontecimentos da vida social e profissional e que tem um grande potencial econômico.
Para engajar os novos otimistas:
Comércio em livestream: saturados pela publicidade online, os novos otimistas viram no comércio livestream uma nova forma de interação de compra.
Compras em RA/RV: do hype à conveniência: obcecados por higiene, utilizam do recurso da realidade aumentada para experimentar os produtos em qualquer lugar e de acordo com a sua conveniência. A experiência de compra deve ser compartilhável, uma vez que esse grupo valoriza o feedback dos seus pares.
A evolução dos serviços sob demanda: os novos otimistas são os principais propulsores da chamada ‘economia da celebração’, estão sempre prontos para um evento ou uma aventura. Os varejistas que criarem uma plataforma de pedidos e entregas realizados em grupo serão bem-sucedidos.
O poder (e a renda) do coletivo: com uma mentalidade que valoriza as comemorações, os novos otimistas prezam a alegria, principalmente no que diz respeito a promoções e descontos. Essa atitude está renovando o interesse pelas compras coletivas, tanto nas lojas físicas quanto nas plataformas on-line.
Em síntese, o consumidor do futuro está inserido em 3 grupos focais: os estabilizadores, os comunitários e os novos otimistas. Com base nesses perfis comportamentais a WGSN, nos dá ferramentas para construção de estratégias para chegar no futuro próximo competitivo e atentos ao desejo dos consumidores.
Referências:
O Consumidor do futuro. WGSN. Maio de 2020. Disponível em: www.wgsn.com.
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